Regina é a única protecção que necessita; a Santa retira-lhe a angústia vespertina do "mau" vinho do marido, e protege-o no caminho de casa.
Entre as cinco e as sete, a vela arde para que a chegada seja antes do jantar:"[...] aos cinco para as cinco acende a vela, põe as mãos pedindo que ele chegue antes do jantar." (Jorge, [1997], 2002:486).
Respeitando o descanso merecido dos inquilinos: o aviador com horas perdidas; o médico que fez serão; os advogados entre a lei e a infracção; o recém-nascido com cólicas; o ancião que foi operado, a porteira canta silenciosamente com imensa doçura visando atingir o coração de Regina.
Contudo, se ele chegar de madrugada Regina torna-a invisível atrás das gaiolas, perdurando o silêncio.
Todavia, aqueles que prezam o silêncio às dez da noite, para dormir e vigilar no silêncio, decidiram "atentar" contra o seu casamento.
Quebrar o santo sacramento do matrimónio nunca fez parte do seu pensamento.
Como é que tal ideia passou pela cabeça daqueles moradores tão distantes do seu universo?
Quem é o advogado do quinto; o médico do segundo; a assistente social do terceiro para lhes tirarem a doçura deste amor?
A ligação entre um homem e uma mulher é um sacramento doce e inquebrável. É-lhes difícil perceber que a vida da mulher sem o homem é negra e solitária?
Não, para Lúcia, uma mulher nunca é um ser completo sem um homem.
Quem é que executaria as tarefas masculinas?
A porteira era submissa emocional e fisicamente porque o seu homem era bom; quando não bebia.
Porém, esse amor era-les desconhecido; assim ela nunca fomentaria esse sentimento anticristão: a separação.
Assim, numa madrugada silenciosa o marido acendeu a vela; ateou-a e Lúcia ficou a crepitar à porta do advogado, pois Regina assim o quis.
Finalmente, a libertação chegou: Rex e Regina acompanharam-na e o seu vale de lágrimas terminou.
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